quinta-feira, 30 de julho de 2009

COMOÇÃO À CHEGADA


Espontâneamente lembro-me das chegadas a Roma (2008), Viena (2008), Biarritz (2008), Coruche (2009), Chaves (2009), Lisboa (2009) e ainda as passagens pela Caniçada (2009), Aveiro (2009) e, como não podia deixar de ser Tavira (2009).

Apesar de não se tratar de um dilúvio, onde as lágrimas ganham expressão, trata-se de uma torrente, uma amálgama de sentimentos com que muitas vezes fui confrontado, à mais pequena coisa, à mais pequena vitória sinto-me, inevitavelmente, comovido.

Eu choro! Passo a explicar (como se me sentisse obrigado a justificar porque é que um homem chora), não chego ao limite de sentir o efeito “olho bóia”, nem de me sair “ranho” pelo nariz”, desculpem a imagem, mas os meus olhos ficam com uma camada líquida que os torna baços, o olhar toma uma postura avermelhada, a expressão um misto de felicidade com enternecimento, nestes momentos não choro de tristeza, mas de alegria – cheguei!

Onde? Não interessa. Interessa que cheguei! Atingi o objectivo.

Quando me sinto comovido à chegada é como se o mundo – todo o mundo – quisesse que eu completasse aquele pequeno desafio, quisesse que eu perpetuasse para sempre aquele gesto, aquele movimento, aquele momento. É uma amálgama de sentimentos, desde o pico de adrenalina, à saudade por saber que não voltarei a repeti-lo, à conquista, ao esforço recompensado. É um dos poucos sentimentos que me faz sentir em paz.

Não sei se esta comoção se prende com a vontade e o prazer de viajar, suponho que sim, ou se se trata, exclusivamente, de um sentimento, tão pequeno, mas, simultâneamente, tão grande, de dever cumprido. O dever cumprido não precisa de ser grande na sua expressão, pode ir desde o atingir o ponto mais distante de Portugal na volta pela Europa, assim como o ponto mais a norte do nosso pequeno país, não interessa se o que faço é pequeno aos olhos de outros, mas sim o que naquele momento é fruto de um epitáfio único – o de ter chegado!

Adoro-o, talvez, porque até hoje, não senti os perigos com que se depararam outros que nalgum país da América do sul ficaram sem nada, porque foram assaltados, porque na Ásia foram barrados pela polícia local, porque no “oriente médio” lhes foi negada a permissão de entrada.

Continuo, mesmo assim, ainda que ilusoriamente, a crer que o mundo é bem melhor do que aquilo que se “pinta” e as pessoas o culminar dessa beleza, que mesmo que alguma destas “travessuras” nos seja colocada pela frente, elas não passam da história que temos para contar, do sal que enriquece a vida, a pimenta que dá animo para pôr as pernas a correr e chegar mais depressa ao próximo destino.

Recordo a “comoção à chegada” a Roma, porque representava o princípio do meu percurso, da minha liberdade, a chegada a Viena por ser o ponto mais a oriente em relação a Portugal na volta pela Europa, a chegada a Biarritz por voltar a ver mar e por poder surfar, a chegada a Coruche por ser a primeira paragem depois de ter iniciado a volta por Portugal de bicicleta, a chegada a Chaves por ter passado todo um montanhoso interior norte de Portugal, a primeira chegada a Lisboa por ter contornado todo o norte de Portugal, a passagem pela Caniçada e Aveiro pelos bons momentos que já lá tinha vivido antes e Tavira por tudo o que lá vivi em 8 noites e 9 dias.

Estas são as primeiras razões, aquelas que a quente se oferecem ao espírito e me vêem à cabeça para tentar explicar aqueles momentos de comoção, mas estas não teriam sido, com certeza, as únicas razões para ter sentido o que senti no momento em que estava ali, a vivê-las e se fossem explicariam muito pouco.

As outras razões não sei quais possam ter sido, simplesmente cheguei, olhei e comecei a sentir-me comovido.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

UM SONHO OU UMA ILUSÃO? EIS A QUESTÃO?!

Hoje, sentei-me em frente ao pouco que ainda me liga a este universo, a vocês, a pessoas que me lêem (obrigado), este pequeno ecrã – assumo – sinto-me só. Não, não bebi, não me droguei, não mandei uns "fuminhos" para a “tola”, não caí e bati com a cabeça, não estou a ter alucinações, não me juntei a nenhuma ceita, estou, aliás, bem consciente, bem sóbrio sobre aquilo que vos escrevo e não sei como escrever, por isso, deveria estar num qualquer dos estados de embriagues que referi acima, mas não estou.

Dar um título destes a um texto publicado num blog de “viagens” é como começar por perguntar de onde vim e para onde vou? Enfim, é uma questão sem resposta e desadequada para o efeito que se pretende, mas perceberão – acho!

É assim que vos confesso, mais uma vez, quase no fecho destas palavras mil que construíram e abrilhantaram, ou não, este blog...

…que tenho um sonho e não sei se não será, apenas, uma ilusão! Esta é a questão…

Ora vejamos, há neste mundo poucos sonhadores que lutam de forma convincente e coerente por eles. Muitos desistem dos mesmos quando pensam que já os atingiram, mas com certeza, estarão ainda longe desse feito, do que quando ainda os sonhavam, explico…

Quantos de nós queria ser piloto de aviões, astronauta, bombeiro, polícia e hoje são banqueiros, académicos, consultores imobiliários ou gerentes de loja. Diria, sem querer ofender os sonhadores que o são por inteiro, que quase todos.

Ora o meu sonho é pretensioso demais, leva-me a identificá-lo com uma expressão, uma pequena palavra que não gosto de usar para o definir, é um sonho que mesmo que o consiga realizar é quase inatingível.

Eu sonho poder ser “viajante”, partir ou sair de casa, deixar tudo para trás e seguir, de mochila às costas, bagagem de mão ou sem nada, à boleia de um TIR, de um cargueiro, de um comboio, de um qualquer carro que passa e quem o conduz lê no cartaz, que seguro firme com as minhas mãos, “Boleia para França – Vindimas”, conhecer pessoas de todos os ângulos sociais, poder ajudar pessoas que precisam da minha ajuda e ser ajudado quando estiver em apuros, conhecer toda a Europa e as suas diferentes culturas, a Ásia, a Oceânia, as Américas e África, os cheiros, a cor do céu, a força do sol, a beleza das suas gentes e das estrelas ao cair da noite, partir com apoios ou sem eles, mas para tudo isto é preciso ser-se um sonhador a sério, um daqueles como já há poucos.

Mas sonho fazendo-o com responsabilidade, não me querendo preocupar se a minha carreira está posta em causa aqui em Portugal, que a minha idade avança, que tudo o que fiz até agora foi inútil e que só veio provar que não somos livres, mas dizer ou escrever isto já é quebrar o sonho, porque o sonho é o todo, acontece porque sim, É-se porque se tem de Ser, sonha-se porque se É o que se quer Ser.

Identifico, para que compreendam ainda melhor o que quero dizer, alguns quase “viajantes” e grandes sonhadores, Fernão de Magalhães, Paul Theroux, Gonçalo Cadilhe, entre outros.

Pergunto-me se o meu sonho não será somente uma ilusão? Querem a minha resposta?

obs: preparo a passo lento o vídeo, aquele que, de forma simples, vos fará uma retrospectiva muito resumida do que foram 3 meses e 10 dias a viajar por Portugal – o meu/nosso país – ainda se trata de um esboço mental e alguns slides já trabalhados, por isso, vejam o atraso.

obs1: tenho já o último e pequeno texto escrito…não sei quando o publicarei.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

COOL TOO

(Durante 54 dias tive uma namorada insaciável e permanentemente desejosa de me ter só para ela, escusado será dizer que andava em cima dela uma média de 5h por dia. Ao relatar-vos este facto sinto-me com uma pontinha de vergonha - admito. Tratava-se da minha Capitolina Ambrioleta [a Bici]). Mas...não foi só ela que foi incondicional e fiel no meu percurso.

Quando viajo, seja em Portugal, seja fora dele, a profusão de culturas, a miscigenação de gostos e as levantes de ansiedade que nos põem alerta para ver o que há ali, naquele pedacinho de terra, naquele local, são sempre valorizados em termos exponenciais. No entanto em meu entender nenhuma viagem se completa ou é perfeita sem que se dê tempo e atenção, no meio desta agitação positiva e desejada, a um companheiro fiel - o Livro.

As viagens tomam assim, em meu entender, toda uma nova dimensão, uma proporção mais cultural e intelectual.

Para além dos muitos festivais, feiras e romarias que as diferentes localidades, por onde fui passando, realizavam e há minha passagem estavam a decorrer houve, como há sempre, a presença destes companheiros de histórias escritas com palavras que resultam em frases e que nos levam a tornar-mo-nos os realizadores, no mais íntimo dos nossos desejos, daquilo que foi escrito por outros.


São uma companhia, são a maior companhia, quando não há mais do que uma janela para olhar borda fora, quando não há mais que horas de caminho pela frente, quando há noites passadas de cólicas na barriga, ou quando exulta a nossa amiga insónia...

Assim sendo, houve livros que me influenciaram e outros que me acompanharam nesta minha pequena epopeia, foram eles:



Pedalar Devagar, "Quatro Anos de Bicicleta pela Ásia", de João Gonçalo Fonseca, Valérie Fonseca
Até onde vais com 1000 euros?, de Jorge Vassalo e Carlos Carneiro
Nos passos de Magalhães, "Em busca da maior Epopeia Realizada por um Português", de Gonçalo Cadilhe
A lua pode esperar, "Viagens pelos quatro cantos da terra", de Gonçalo Cadilhe
África Acima, "Uma viagem épica por um continente impressionante", de Gonçalo Cadilhe

terça-feira, 21 de julho de 2009

EIS O QUE MOVE O MUNDO

...muito ou pouco? É sempre polémico. Nunca se sabe se o devemos ou não publicar.

Deixem ver se, de forma impreterível, consigo começar pelo princípio e acabar no fim.

Este é um texto sobre aquilo que, indiscutívelmente, move o mundo. Para tudo é preciso tê-lo e quem não o tem, mesmo que se diga feliz, infelizmente, não o pode ser, pelo menos não completamente, não porque ele compre tudo (só não compra, ainda, o ar que respiramos), não porque ele seja o maioral, não porque sem ele não haja vida, mas porque sem ele não é possível ter acesso ao mais básico, sem ele não é possível aceder ao que nos faz viver.

Diria que esta é a primeira e mais sublime subversão do Ser Humano, diria mesmo o seu Pecado Capital, diria mesmo a razão de ser quem É, ou seja, o Ser mais egoísta, mais centrado em si próprio. Senão vejamos, não se justifica que alguém que o tenha em abundância, sabendo que ao libertar uma misera parte da sua fortuna, poderia libertar da pobreza extrema milhares de Seres Humanos, mas mesmo assim não se interessa e vive com a sua "sanita de ouro" que não usa, com o carro que polui mais do que um arsenal de vacas de pastoreio cheias de cólicas, etc.

Como não sou excepção neste mundo de excepcionais. Neste mundo onde, cada vez mais, a competição toma a forma das boas acções que devem ser levadas a cabo, esquecendo-nos que para alguns o simples facto de nos verem já é uma vitória, e esses encaram-nos com estupefacção só porque conseguimos ter uma t-shirt branca que brilha por usarmos o detergente xpto...para eles é preciso dinheiro, sem o saberem, ou melhor sabem-no e sentem-no na barriga que cresce devido à falta de nutrientes que os mantêm vivos.

Também a minha viagem não foi possível sem utilizar o que move o mundo e subverte o Homem - o dinheiro.

Durante os 54 dias andei a pedalar por Portugal e de acordo com as minhas contas, gastei aproximadamente 1.400,00€.

Isto porquê? Quem me acompanhou sabe que, quase sempre fiquei a dormir em Bombeiros Voluntários, que comia pouco e que muito do que gastava era precisamente neste tópico - alimentação. A sul do país muitas coisas mudaram, fui ficando mais vezes alojado em pousadas da juventude e parques de campismo, tornando a "parada" um tanto mais elevada. Enfim, acho que foi um valor simpático o atingido a pedalar por Portugal, mas muito além das minhas expectativas.

Depois parei em Lisboa e veio o descalabro, gastei algum dinheiro extra...não conta para o balanço destas viagens.

Já de comboio acabei por atingir a feia quantia de 600,00€, em muito pouco tempo, acreditem.

Mas não fica por aqui:
4 meses de Internet móvel a 40,00€ = 160,00€
Nova tenda e esteira = 75,00€
Cavalheirismos e noitadas (LOL) = 250,00€
Livros de viagem = 84,00€
Fora extras (que não se conseguem contabilizar!)

Tudo deve ter rondado os 2.600,00€ (...e vocês dizem assim. - Que abuso! E eu respondo: - Têm razão!).

Tenho comigo uma certeza, uma verdade, para mim irrefutável, um sentimento que me acompanha por qualquer percurso ou caminho que faço ou penso fazer: "não há dinheiro nenhum no mundo que pague tudo aquilo que vivo".

obs: esclareço que estou desempregado, não vivo do fundo desemprego e nem na abundância, vivo com o pouco que poupo dos trabalhos que vou tendo, até ao dia em que me disserem é velho demais para isto, não o queremos...

obs1: orgulho-me de ter comprado produtos que contribuem essecialmente para o crescimento e sobrevivência da economia nacional.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

"SIM É O NOVO NÃO"


O Sol em Tavira. Tavira lá em baixo.
Adorei Tavira
Á Emily.

Conto-vos uma história:
Há uns anos atrás estava numa aula de Finanças Públicas, de 1h30m de duração, na faculdade. Faltavam perto de 30 minutos para acabar a aula e um colega nosso chegou. O professor lacónico e com seu característico "humor negro", virou-se para o colega e proferiu a seguinte questão: "O Sr. chegou atrasado para esta aula, ou adiantado para a aula que vem?"

Assim me encontro neste momento. Não sei se o "sim é o meu novo não".

Assim estou eu, no impasse de uma vida que tem passado ao sabor de um vento que me afasta dos feitos, com os quais os outros sonham e pelos quais lutam. Será que desisti, desanimei ou desmotivei? (três das pelavras mais difícies de proferir e mais feias que existem!)

...

Depois de um percurso sortudo, de uma vida "fácil", percebi que afinal sempre fui uma coisa - o problema para tudo e todos os que me rodeavam.

Nesta sequência de palavras escritas não posso deixar de referir que, ontem senti uma dor, quando cheguei a casa e descubro que me deitaram fora a caixa com as memórias, com o passado, com o boletim de vacinas, com fotografias irrecuperáveis, chego a casa e um dos que me criou é um dos que mais me rejeita, é um que diz mal de mim, é um que põe a pequenina que nasceu depois de mim, do mesmo ventre que eu, contra mim.

Por vezes penso, não faço parte desta sociedade, não nasci neste tempo, mas noutro, ou por vezes penso, és parvo por pensares.

Admito, assumo, confesso: não sei o que quero fazer! Eis o meu pau de dois bicos, eis o meu busílis da questão, eis a minha principal dúvida: "cheguei atrasado para esta aula ou adiantado para a seguinte", eis a dúvida se o meu "sim é um novo não"...

Neste momento gostaria de ser de novo criança, de chegar atrasado sem compromisso, de não sofrer com o facto de me terem deitado fora a caixa mais importante da minha vida, de não me ter sido pelo tempo, sem saber quando o perdi, dado a capacidade de saber o que quero fazer.

Por fim, este blog aproxima-se do final, do seu desfecho, começo a trabalhar num novo ambiente de trabalho, mais genérico, mais sobre mim...mas ainda falta...

ps-gostaria de ter o vosso feedback.

sábado, 18 de julho de 2009

DE COMBOIO, NÃO DE AVIÃO


Locomotiva que separa Lagos de Vila Real de Santo
António - Nova estação de Lagos


Uma janela do comboio. A paisagem lá fora. A caminho de
Tavira partindo de Lagos, 3h de caminho...


Há transportes que se dão ao luxo de serem mais democráticos, mais afáveis, mais permissivos ao viajante (não o sou!), que possibilitam melhor o contacto, a comunicação e um deles é o comboio.

De comboio podemos sentir o pulsar daqueles que connosco partem de um determinado apeadeiro, os que entram nos apeadeiros seguintes, a calma ou a pressa que os aflige, a correria para o trabalho ou uma simples viagem em passeio, permite-nos sentir as mudanças de temperatura de local para local, de cheiros, permite-nos, simplesmente, olhar para o lado e conversar, eu sei lá - é um dos meios de transportes, em meu entender, mais democráticos e incríveis que existe.

Nesta viagem de 10 dias ao sul de Portugal, com uma duração aproximada de 4h entre Lisboa e Tunes, apanhei, essencialmente, dois tipos de comboio, o Intercidades que liga Lisboa a Faro e vice-versa e o regional que separa Lagos de Vila Real de Santo António. O primeiro a electricidade e puxado por uma motora, capaz de atingir velocidades elevadas, com ar condicionado; o segundo a gasóleo que se movimenta puxado por duas Auto-motoras, uma instalada na frente e outra na traseira, nas únicas 3 carruagens que compõem a serpentina metálica que se move sobre o seu peso de metal e com alguma dificuldade de locomoção, o ar é o puro, aquele que, quente ou frio, entra pelas janelas abertas ou fechadas, mas com brechas da idade e que desta forma se fazem sentir.

Adorei as viagens que fiz e foram umas quantas, mas também adorei a mudança de planos de quem viaja sem rumo definido, sem nada marcado, sem nada em concreto.

Tinha planeado andar a viajar 10 dias de comboio e o primeiro bilhete destinava-me a Faro. Chegado a Tunes, mudei de ideias, mudei o rumo - bilhete para Lagos e, por lá, passei a primeira noite.

No dia seguinte o objcetivo era claro, rumar a Tavira, com uma nova Pousada da Juventude por lá instalada, tratava-se de "ouro sobre azul", mal sabia que acabaria por lá ficar o resto dos 9 dias e 8 noites que ainda me restavam.

Defini, depois de decidir ficar em Tavira que iria andar de comboio, tendo sempre como "porto de abrigo" e regresso - Tavira. Assim foi no primeiro dia, mas, depois fiquei e fui ficando. Sem esse palavrão comprometedor que é - compromisso.

A bicicleta, como o andar a pé, o viajar de comboio, de Autocarro, por vezes, de veículo próprio, permitem-nos conhecer mais, ver mais daquilo que é o mundo que nos rodeia, não nos fazem, como quando viajamos de avião, catapultar-mos de um local para o outro sem conhecer o que existe pelo meio.

ps-apesar de, à semelhança de Gonçalo Cadilhe e outros viajantes, não considerar o avião como um meio de transporte que combine com todo o esplendor da palavra viajar, antes um mal menor que passa por cima do que deve ser vivido, reconheço-lhe a importância, eficácia e rapidez.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SEM PALAVRAS PARA DESCREVER

...fazia tempo...e que tempo...

Deixei de me sentir pressionado pela escrita neste espaço, quero com isto dizer que, hoje, não queria escrever, até porque pouco mais há a dizer (deixa lá de te contradizer Tiago, se não quisesses escrever não estavas agora aqui!)...blá, blá, blá...

Enfim - até estou gago e sem saber por onde começar - sem querer colocar disponível a errância da minha privacidade, mas subentendendo que o que aqui vou transcrever, por palavras, faz parte da minha viagem, não posso por isso, em meu entender, deixar de o referir. Trata-se apenas de um pouco daquilo que considerei um dos momentos mais marcantes neste percurso sinuoso, mas único, de 3 meses e 10 dias de viagens (não querendo parecer redutor, houve muitos outros!).

Como o sol, também os seus cabelos brilhavam.

Tavira, apesar de uma terra portuguesa, na região mais visitada pelos portugueses e estrangeiros na época de verão, região fustigada por uma imensa enchente no período do calor e esquecida durante o inverno, o outono e a primavera, deve ter alguma coisa de especial - como dizia o Cedric da Pousada da Juventude de Tavira.

Conto-vos a história das minhas últimas duas noites em Tavira (de 14 para 15 de Julho e de 15 para 16 de Julho de 2009).

Já tinha dado conta de que o sol havia entrado pela porta, passado pelo átrio e deambulado pelos corredores da Pousada. Contudo, há coisas para as quais sou hesitante, ou seja, tímido. Não tendo nascido programado com uma parte importante daquilo que é o trilhar terrenos para além de mim...não foi preciso, de forma espontânea, Tavira chamou-me e as coisas sucederam-se.

De um inglês norte americano, de uma simplicidade e cativação únicas, de uma ressaca de casos atrás de casos pouco e muito mal sucedidos - admito - tudo me correu bem. Eu estava na cozinha de alberguista sozinho, a conversa acabou por fluir, eu tinha a tenda, tudo parecia, mesmo sendo sem querer ou sem ter sofrido qualquer delapidação prévia, estar a encaminhar-se e a percorrer de forma perfeita os contornos sinuosos, mas primoroso das suas curvas...foi a minha última e óptima companhia.

Tenho de agradecer eufemisticamente à cozinha de alberguista de uma pousada da juventude portuguesa, à minha programação que naquela noite estava lá, à minha tenda, ao parque de campismo da ilha de Tavira, ao barco que serve como meio de transporte, ao oceano atlântico, ao Rio Gilão, à noite de Tavira, às estrelas, à lua...e à...

...luz do sol emanada pelos seus cabelos. Aqui lhe presto a minha homenagem.


(Chega de eufemismos...)

Enjoy your Trip Emily
Tiago Maria d'Aubigné

terça-feira, 14 de julho de 2009

8'18"

Viajar da forma como tenho viajado nos últimos 3 meses tem tanto de objectivo como de errância desorientadora. Parti de bicicleta, andei pelo país a pedalar durante 54 dias, isso não me chegou, queria mais, mas não sei o quê e, simplesmente, ando…

Nisto, o tempo tem um papel importante não aquele tempo para o qual nos orienta o relógio, quanto a esse, já há muito deixei de o usar, consegui afastar-me do “tic-tac” que nos aconchega ou exalta à passagem das horas, dos dias, dos anos…

Nisto do tempo tudo é muito relativo, assim como foi ter escolhido Tavira para dormir durante oito noites, por aqui ter conhecido gente excelente, magnífica, de todas as nacionalidades, desde pessoas locais a completos “deslocados”, até deu para conhecer o Ronald que anda a dar a volta ao mundo de bicicleta, sempre partindo de Genebra, cidade de que ele é embaixador. Chegar aqui não para umas férias, mas por causa de mais uma passagem.

Em 8 minutos e 18 segundos na vida podem fazer-se muitas coisas, ou também pode não se fazer nada, pode aproveitar-se, assim como pode perder-se tempo a não conseguir fazer aquilo que se queria, podem fazer-se coisas com um valor inquestionável, mas também se pode simplesmente preguiçar ao som do vento e de todos os outros fenómenos que nos rodeiam, podemos zangar-nos ou simplesmente pensar que isso é perda de tempo.

Em 8 minutos e 18 segundos podemos ver a luz do sol, assistir-se ao nascer de um novo dia ou vê-lo cair no horizonte, no topo de um castelo que, de forma panorâmica nos permite assistir, com sentido de camarote exclusivo, o seu imponente espaço lá no alto.

Assim é viajar desta forma, talvez como os 8’18” que a luz do sol demora a chegar à terra. Em Tavira, como nos meus últimos meses tem sido assim, tudo se move em torno do tempo que ainda sinto que me falta para…

ps- a luz do sol demora 8’ 18” a chegar a terra. Gostava que algum especialista me passasse mais informações sobre este fenómeno.

domingo, 12 de julho de 2009

DE COMBOIO POR AÍ...


Vila Real - Julho 2009

O rio que nos separa do lado de lá - Rio Guadiana
Vila Real de Santo António - Julho 2009

Grandes rivais de descobertas, histórias de marinheiros, de barcas e caravelas que chegavam ou não, trazendo novidades e especiarias, ou não, de tão rivais que foram, ou são, tiveram a veleidade de dividir o mundo em dois. Eis o paralelo com que reflecte a minha mais recente passagem…

No ponto mais extremo do sudeste português e, do lado de lá, no ponto mais extremo do sudoeste espanhol encontram-se as palavras que designam outra cidade portuguesa - Vila Real de Santo António, uma vez mais.

Uma tarde quente de verão esperava-me…

Chegado ao local de recolhimento ouço falar inglês, pergunto-me serão ingleses ou inglesas, ou não? Tentarei, se o vento me deixar, descobrir qual a nacionalidade e história daqueles que me rodeiam. Manuela, Vera, Cedric, Ticha, Iona, Heliana, Vicente são alguns deles, entre portugueses, brasileiros que vivem na Alemanha ou que trabalham em Portugal, Suecas e Eslovenas, malta porreira que o meu eremitismo errante me leva a conhecer.

Por vezes canso-me de me sentir só, mas depois, insurgem-se assim, algumas das noites, de lua cheia, mais loucas e extenuantes da minha vida e dos últimos anos.

O comboio continua a transportar-me! O eremitismo continua a existir, com pena do autor e a falta de horas de sono, essas, não incomodam...

sábado, 11 de julho de 2009

OUTRA PARTE


Lagos - Julho 2009

Com um estado de espírito, nesta primeira viagem e que se vem dissipando, mas que continua, estilo velocímetro de um carro de Fórmula 1 a ser conduzido por um piloto à altura, entre mudanças altas e baixas, com mudanças de caixa quase permanente e numa constante, leva leva, de acelerações e desacelerações, enfim no fundo conseguia ir dos 0km/h aos 300km/h em segundos e vice-versa.

Assim, por vezes, são passados os meus dias em viagem, bem como na vida, basta, contudo, ver passar o Gilão em Tavira, passear nas ruas de Barcelona e, por vezes deparar-me com as obras arquitectónicas de Gaudí sentir toda a evasão permitida por um fraco hostel em Roma, ver monitores de computador do século passado a boiar no Gran Canal em Veneza e com todos estes pormenores, todos esses pensamentos passavam a momentos únicos.

Aprendi que, como tudo, as viagens são únicas e irrepetíveis, não há repetição de fenómenos, nada do que se passou ontem é igual ao que se vai passar amanhã, ou seja, nada é como foi ou tudo muda da 1ª para a 2ª vez.

Bom, depois dessa viagem pela Europa (Maio e Junho de 2008 – http://westerneutour.blogs.sapo.pt ), cheguei, iniciei um blog que nada mais era que uma continuação da viagem que iniciara e que, apesar de todas as oscilações e de ter dúvidas se aproveitei tanto quanto deveria, havia uma certeza, a de que daí em diante nada seria igual…

Começou a surgir a ideia de fazer uma outra viagem em que me pudesse colocar completamente à prova e que me levasse, eventualmente, a viver destas viagens que vou fazendo – o meu mundo mudara - Até onde vais com 1000€, Where the hell is Matt, The Longuest Way, Take a Seat, Way Home From Siberia, começaram a tornar-se pontos de convergência diária nas minhas opções de Internet, na literatura, Pedalar Devagar, todos os livros de Gonçalo Cadilhe, todos os livros de Bill Brison, vários guias turísticos e mapas…e…

Entrara para Multipessoal, apenas na perspectiva de angariar mais uns trocos para partir de novo, adorei o trabalho que desempenhei, pois nunca tinha desempenhado uma função com tal objectivo em mente – o de voltar a partir, fazendo-me despreocupar do que fazia os outros lutarem pelo seu lugar, eu não, só queria ser o melhor naquilo que era a minha função e, sem modéstia, fui. Sendo pouco apologista do trabalho atrás de uma escrivaninha ou de um trabalho fechado diariamente num escritório, de sol a sol, não tive de tomar uma decisão muito difícil, aliás já estava tomada.

Desafio definido, de bicicleta por Portugal, antes de mais conhecer melhor o meu país, a minha primeira casa, depois o mundo. Assim fiz, segunda grande viagem, desta vez tendo sido eu a assinar a sentença de morte no emprego em que estava. Valeu a pena, objectivo concretizado, Portugal mais do que lés-a-lés.

…um, ou melhor, vários comboios não faziam parte do projecto, mas estão a saber bem, até porque à semelhança de vários dos muitos e bons intelectuais, estava, não sei se estou a passar uma fase tumultuosa da minha vida, nada melhor do que quebrar essa inércia e aqui estou a escrever-vos, como mau escritor que sou.

Falta-me apenas contrariar a parte negativa ou os defeitos que vos apresentei no desenrolar desta prosa ficcionada ou não, contudo para não parecer abusado e não querendo ser imodesto…deixo aos que me conhecem que me avaliem…

TMA

sexta-feira, 10 de julho de 2009

TAVIRA


Tavira - Julho 2009

Ruas de Tavira - Julho 2009

Depois de Lagos, Tavira, do Barlavento para o Sotavento.

Um dos Portos mais importantes, noutras épocas, e abastecedores de grandes potências como a Itália e Flandres, África não lhe ficara esquecida na arte de entregar tudo o que por aqui passava e que daqui era tradicional. Teve também uma elevada importância nessa expansão marítima em que o Portugal Imperial esteve empenhado.

Diria que passar no Algarve e não passar por aqui, é como se quiséssemos relegar para lá, no sentido estrito do conhecimento de uma região, toda a plenitude desta parte de Portugal. De cor Branca predominante, com uma ilha que nos separa da praia, com um número infindável de igrejas, uma cidade que vive das actividades piscatórias e agora de todos os turistas que passam, ainda assim sem a azafama estrangeira de Lagos, sem as esplanadas que estragam a cor das ruelas, muito por empenho dos que governam este local de origens remotas, não por vontade daqueles que vêem nesta actividade um fim lucrativo.

Tavira é a simpatia das pessoas que a habitam, é o cheiro do rio contrastado com os senhoras e senhores que sentam no jardim juntos à Praça da Republica a discutir o passado, o presente e o Cristiano Ronaldo (CR9), é o senhor Castim do Clube Náutico de Tavira, é o Comboio regional que de Lagos a Tavira, ao sabor dos motores ainda, preocupantemente, não preocupado com o ambiente, leva três horas na linha única, como a da vida, que separa o Barlavento do Sotavento e vice-versa.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

UMA PARTE


O Talibã - barba de 3 meses
...já não existe...

Sobre mim (pouco há a dizer, mas…):

Aquilo que serve para inglês ver é o que está escrito na barra lateral do blog (ver: C.V. Resumido), mas contém alguns dados que não se podem deixar passar em branco.

Sou um jovem, já adulto, de 27 anos, quase nos 28, que nasceu em Lisboa e de seu nome Tiago.

Até terminar os estudos superiores não fugi ao que de mais monótono e estandardizado pode haver na vida de todos ou de quase todos nós, pois há aqueles que “fogem” a este ritmo, sublimemente, imposto pela sociedade. Enfim, teorias à parte, estudei, licenciei-me, pós-graduei-me e lá estava – pronto para o mercado de trabalho – assim foi, a sorte esteve do meu lado, mal acabei a licenciatura comecei a trabalhar e em regime pós-laboral iniciei o meu mestrado que acabou em pós-graduação.

Desmistificando. Até à data as minhas viagens tinham sido sempre em família. Extremamente tímido, limitado, arrogante (dito por alguns, não concordo!), mau escritor e algumas ansiedades, encarei cada um destes defeitos e outros que tenho como algo contornável, ou não, e por isso...

Quando menos esperava estava a terminar o meu percurso no MNE (2 óptimos anos de trabalho) – ponto de partida para “quebrar algum gelo” no meu percurso…

Decidi preparar a minha primeira viagem em solitário, objectivo: um mês a percorrer alguns países da Europa (desmistifico: não vou sozinho porque quero, mas porque não tenho companhia!), para juntar à festa optei por fazer esta 1ª viagem num dos meios de transporte que mais arrepios me provoca – o avião – enfim poucas coisas a favor…

continua…

1ª PARAGEM - LAGOS


Azulejos no Mercado Municipal de Lagos


Ruas de Lagos - sem carros e esplanadas


Antiga estação de Caminhos de Ferro da CP - Lagos

A minha 1ª paragem foi a cidade de Lagos. Não sei porquê, mas esta é uma cidade do Sul de Portugal da qual gosto bastante.

Não pela veia turística que agora lhe está inerente, ou pelas ruas lindíssimas mas cheias de esplanadas apontadas a um qualquer estrangeiro, impedindo assim de analisar pormenorizadamente a sua beleza.

Trata-se de uma cidade com uma luz diferente, a luz do sol de Portugal, com mais de 2000 anos de história, cidade marco pela sua importância nos descobrimentos portugueses e uma das cidades com maior perímetro urbano muralhado.

Apesar de não haver coincidências, nem a mesma fórmula se repetir mais de uma vez, decidi começar por aqui esta última passagem.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

PORTUGAL É UMA SELVA

...3 meses depois de ter partido...

Faz precisamente 3 meses que iniciei a minha volta por Portugal e trago novidades...

(esqueçam, por enquanto, que este blog está associado a um percurso por Portugal de bicicleta, dado que não fazia sentido criar um novo blog por apenas 10 dias...sim, 10 dias!)

Com vontade de quebrar a inércia que vinha fazendo parte da minha vida, já lá ia 1 mês e 1 semana, peguei na mochila, pus ás costas, mesmo cheia demais para o que vou fazer e parti de novo.

Desta vez, por 10 dias e serão os últimos 10 das viagens por Portugal e pelo ano de 2009...sim leram bem, por Portugal.

Mais uma vez a viajar, na tão comum prática de viajar sentado, óptima maneira e mais comum de viajar, nos comboios da CP...como diria Gonçalo Cadilhe andar de avião não é viajar, diria mesmo que é passar por cima daquilo que de facto se deveria ver.

Com 5 horas que distanciam Lisboa de Lagos, pus-me a caminho e neste espaço de tempo percebi que Portugal é uma selva, no bom sentido, de Sobreiros e Eucaliptos. Mas uma selva de pessoas é também o Intercidades - numa segunda-feira, vinha cheio, incrível...

Pude ver, de forma mais rápida do que a pedalar, mas de maneira não menos interessante, o verde, o amarelo, os tons de vermelho e castanho que contrastam na perfeição lado a lado, nas planícies, montes e serras do Alentejo e Algarve...

(nestes últimos contarei mais sobre mim, desmistificando, o que possa ser necessário desmistificar, pelo menos em meu entender)