quinta-feira, 30 de julho de 2009

COMOÇÃO À CHEGADA


Espontâneamente lembro-me das chegadas a Roma (2008), Viena (2008), Biarritz (2008), Coruche (2009), Chaves (2009), Lisboa (2009) e ainda as passagens pela Caniçada (2009), Aveiro (2009) e, como não podia deixar de ser Tavira (2009).

Apesar de não se tratar de um dilúvio, onde as lágrimas ganham expressão, trata-se de uma torrente, uma amálgama de sentimentos com que muitas vezes fui confrontado, à mais pequena coisa, à mais pequena vitória sinto-me, inevitavelmente, comovido.

Eu choro! Passo a explicar (como se me sentisse obrigado a justificar porque é que um homem chora), não chego ao limite de sentir o efeito “olho bóia”, nem de me sair “ranho” pelo nariz”, desculpem a imagem, mas os meus olhos ficam com uma camada líquida que os torna baços, o olhar toma uma postura avermelhada, a expressão um misto de felicidade com enternecimento, nestes momentos não choro de tristeza, mas de alegria – cheguei!

Onde? Não interessa. Interessa que cheguei! Atingi o objectivo.

Quando me sinto comovido à chegada é como se o mundo – todo o mundo – quisesse que eu completasse aquele pequeno desafio, quisesse que eu perpetuasse para sempre aquele gesto, aquele movimento, aquele momento. É uma amálgama de sentimentos, desde o pico de adrenalina, à saudade por saber que não voltarei a repeti-lo, à conquista, ao esforço recompensado. É um dos poucos sentimentos que me faz sentir em paz.

Não sei se esta comoção se prende com a vontade e o prazer de viajar, suponho que sim, ou se se trata, exclusivamente, de um sentimento, tão pequeno, mas, simultâneamente, tão grande, de dever cumprido. O dever cumprido não precisa de ser grande na sua expressão, pode ir desde o atingir o ponto mais distante de Portugal na volta pela Europa, assim como o ponto mais a norte do nosso pequeno país, não interessa se o que faço é pequeno aos olhos de outros, mas sim o que naquele momento é fruto de um epitáfio único – o de ter chegado!

Adoro-o, talvez, porque até hoje, não senti os perigos com que se depararam outros que nalgum país da América do sul ficaram sem nada, porque foram assaltados, porque na Ásia foram barrados pela polícia local, porque no “oriente médio” lhes foi negada a permissão de entrada.

Continuo, mesmo assim, ainda que ilusoriamente, a crer que o mundo é bem melhor do que aquilo que se “pinta” e as pessoas o culminar dessa beleza, que mesmo que alguma destas “travessuras” nos seja colocada pela frente, elas não passam da história que temos para contar, do sal que enriquece a vida, a pimenta que dá animo para pôr as pernas a correr e chegar mais depressa ao próximo destino.

Recordo a “comoção à chegada” a Roma, porque representava o princípio do meu percurso, da minha liberdade, a chegada a Viena por ser o ponto mais a oriente em relação a Portugal na volta pela Europa, a chegada a Biarritz por voltar a ver mar e por poder surfar, a chegada a Coruche por ser a primeira paragem depois de ter iniciado a volta por Portugal de bicicleta, a chegada a Chaves por ter passado todo um montanhoso interior norte de Portugal, a primeira chegada a Lisboa por ter contornado todo o norte de Portugal, a passagem pela Caniçada e Aveiro pelos bons momentos que já lá tinha vivido antes e Tavira por tudo o que lá vivi em 8 noites e 9 dias.

Estas são as primeiras razões, aquelas que a quente se oferecem ao espírito e me vêem à cabeça para tentar explicar aqueles momentos de comoção, mas estas não teriam sido, com certeza, as únicas razões para ter sentido o que senti no momento em que estava ali, a vivê-las e se fossem explicariam muito pouco.

As outras razões não sei quais possam ter sido, simplesmente cheguei, olhei e comecei a sentir-me comovido.

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