sábado, 18 de julho de 2009

DE COMBOIO, NÃO DE AVIÃO


Locomotiva que separa Lagos de Vila Real de Santo
António - Nova estação de Lagos


Uma janela do comboio. A paisagem lá fora. A caminho de
Tavira partindo de Lagos, 3h de caminho...


Há transportes que se dão ao luxo de serem mais democráticos, mais afáveis, mais permissivos ao viajante (não o sou!), que possibilitam melhor o contacto, a comunicação e um deles é o comboio.

De comboio podemos sentir o pulsar daqueles que connosco partem de um determinado apeadeiro, os que entram nos apeadeiros seguintes, a calma ou a pressa que os aflige, a correria para o trabalho ou uma simples viagem em passeio, permite-nos sentir as mudanças de temperatura de local para local, de cheiros, permite-nos, simplesmente, olhar para o lado e conversar, eu sei lá - é um dos meios de transportes, em meu entender, mais democráticos e incríveis que existe.

Nesta viagem de 10 dias ao sul de Portugal, com uma duração aproximada de 4h entre Lisboa e Tunes, apanhei, essencialmente, dois tipos de comboio, o Intercidades que liga Lisboa a Faro e vice-versa e o regional que separa Lagos de Vila Real de Santo António. O primeiro a electricidade e puxado por uma motora, capaz de atingir velocidades elevadas, com ar condicionado; o segundo a gasóleo que se movimenta puxado por duas Auto-motoras, uma instalada na frente e outra na traseira, nas únicas 3 carruagens que compõem a serpentina metálica que se move sobre o seu peso de metal e com alguma dificuldade de locomoção, o ar é o puro, aquele que, quente ou frio, entra pelas janelas abertas ou fechadas, mas com brechas da idade e que desta forma se fazem sentir.

Adorei as viagens que fiz e foram umas quantas, mas também adorei a mudança de planos de quem viaja sem rumo definido, sem nada marcado, sem nada em concreto.

Tinha planeado andar a viajar 10 dias de comboio e o primeiro bilhete destinava-me a Faro. Chegado a Tunes, mudei de ideias, mudei o rumo - bilhete para Lagos e, por lá, passei a primeira noite.

No dia seguinte o objcetivo era claro, rumar a Tavira, com uma nova Pousada da Juventude por lá instalada, tratava-se de "ouro sobre azul", mal sabia que acabaria por lá ficar o resto dos 9 dias e 8 noites que ainda me restavam.

Defini, depois de decidir ficar em Tavira que iria andar de comboio, tendo sempre como "porto de abrigo" e regresso - Tavira. Assim foi no primeiro dia, mas, depois fiquei e fui ficando. Sem esse palavrão comprometedor que é - compromisso.

A bicicleta, como o andar a pé, o viajar de comboio, de Autocarro, por vezes, de veículo próprio, permitem-nos conhecer mais, ver mais daquilo que é o mundo que nos rodeia, não nos fazem, como quando viajamos de avião, catapultar-mos de um local para o outro sem conhecer o que existe pelo meio.

ps-apesar de, à semelhança de Gonçalo Cadilhe e outros viajantes, não considerar o avião como um meio de transporte que combine com todo o esplendor da palavra viajar, antes um mal menor que passa por cima do que deve ser vivido, reconheço-lhe a importância, eficácia e rapidez.

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